segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Show de Luzes

- Hohoho, olha quem chegou!!!

- Quanto tempo terráqueo...

Uma mão estendida recebe um high five. Um brilho colorido explode longe longe longe no céu. Ninguém se impressiona. A mão segue estendida e seu dono diz em ironias e malícias:

- Impressionado com isso? Chegasse antes vc assistiria um belo espetáculo. 

- Como assim? 

- Hey Wood! Conte pra ele, sobre todas as maçãs no céu. Hahahahah

Ele seguia olhando para o céu. As cores eram fascinantes, e invocavam algo familiar. 

- Desculpe Agenor, mas ele já entendeu. Não há nada para ser explicado. 

-Agora eu que digo, como assim? 

- Explique vc pra nós, terráqueo. O que foi todo esse evento estranho e bonito ao mesmo tempo? E pq aquele bendito riff ecoava sem parar? Estamos no fim do universo. Sabemos que desse restaurante para a frente o que existe é apenas mecânica quântica retorcendo uma realidade para poucos. 

- Meus amigos e minha amiga. 

Amy acena lá de dentro do Piano Bar e solta no microfone: 

- Longa ida ao banheiro terráqueo. 

E caiu na gargalhada, quando ele respondeu em pensamento. 

Todos caíram na gargalhada, inclusive nos porões, estacionamento e outros locais do universo. 

E aí o terráqueo sorriu. E de repente o espetáculo reiniciou. E algo como um enorme sorriso transpareceu no céu. Wood e Agenor deixaram cair suas taças, que também pareciam sorrir. 

- E aí terráqueo. Era sobre isso que Wood iria te falar... 

- Eu sempre soube Agenor. 

O sorriso apenas parecia perpetuar. Um vento incomum para aquela região soprava. E um tanto distante aquele brilho no horizonte apresentava um sol ainda novidade para aquela região. 

- Apenas vc q não entendeu Agenor. 

Wood gargalhou também. Amy apenas sorri e cantou mais um refrão. Um cachorro gigante e um Sr de preto parecem dançar felizes. As capas esvoaçantes e elegantes. E aquele som feliz vindo de dentro. 

O terráqueo sorria ainda mais. 

- Espero q vcs tenham gostado do espetáculo Senhores e Senhora. Eu vim aqui apenas para conferir por este ângulo. 

Wood , Agenor, Rufus e a própria cabine telefônica sabiam o que o terráqueo queria dizer. E sorriram também.

O cachorro gigante uivava e o Sr de preto servia mais uma taça para Amy. Ziggy e seu raio no rosto brilhavam enquanto brindavam taças em sua mesa. Todos dirigidos em reverência ao visitante que agora parecia mais familiar. 

A camisa xadrez e a toalha dançavam com o vento. Quando a própria Coração de Ouro rompeu naquele céu pitoresco. Três cabeças saltaram para fora. 

- Vamos terráqueo. Temos mais uma coisa a resolver. 

Ziggy e seus parceiros de mesa gritaram. 

- Já está resolvido Trícia! 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

De volta ao Universo

- Olá terráqueo

- Aqui o seu...

- Eu tenho o meu, e seja mais educado...

-Ola, me desculpe. É impressionante, você tem o seu?! 

Uma risada debochada ao fundo. Quase uma gargalhada. E um escape ao encontrar um antigo parceiro de bebedeira: 

- Ryuki, você por aqui...

- Ele nunca te contou e você nunca perguntou. Seja mais ousado novamente. Afinal chegar até aqui e se preocupar com isso. Hhahahahahaa Vocês são engraçados

- Eu só direi adeus nas palavras. 

- Agora é show de stand up hahahahah mas você entendeu. E digo mais, alguém gostou do seu trabalho com a estrada 42. 

Uma sensação familiar e estranha invade o terráqueo, antes de questionar do que se trata. Em algum lugar taças de champanhe são servidas, canapés maneiros e demais elegâncias. Todos estão com trajes de acordo, muito além do cool e da classe exigida, inclusive ele. 

- A estrada 42 é um interessante sistema que reúne aqueles que planetas quase irmãos de tão perfeitos. Aquele onde todos estão numa eterna tarde de praia que deságua num happy hour animadíssimo e aquele planeta sensação que nos recebe em jantar de gala e celebração. E aqui estamos , e isto é para poucos. Pouquíssimas no universo na verdade. Ao menos até você relacionar as energias necessárias  para estabelecer um maior acesso. Divertido. 

Um piano começa a tocar, ela pede licença. Assume o microfone do piano bar. Com um aceno dela o rapaz relaxa , recebe uma taça e se deixa levar pela música boa. Algo lá no fundo da paisagem pulsa lembrando um arco íris vibrante. Em ressonância com os movimentos da música. 

- Salve terráqueo, me desculpe, eu também sinto saudades de certas coisas. Você entende. Somos bons amigos. E por falar nisso, estamos em uma boa turma hoje. Só você mesmo. E aquele seu amigo Arthur. Bom, ele é o mais feliz. 


terça-feira, 8 de março de 2022

Romance de GreNal

Um som de instrumento de sopro vem entrando no diálogo dentro de campo. Os jogadores que se empurravam para ocupar espaço no escanteio param com o conflito confusos com aquela melodia. 

A melodia corria solta pelo estacionamento, Ildo procurava pelo carro de onde vinha a buzina. E não achava. E o som , agora atormentador, parecia dominar o ambiente. 

Nas cabines do estádio, Pedreirinho narra: 
- O lateral esquerdo do Grêmio vai bater o escanteio. Correu pra bola, algo está estranho na área...

E a narração, assim como o jogo somem. A melodia não. Aquele grito de guerra chato, que os colorados cantam quando vencem preenchia o quarto e Ildo abre os olhos.

- Aquele filho da mãe.

E corre para a sacada de seu terraço. Abre a janela e grita: 

- Vá se ferrar o Série B. 

O som da corneta apenas aumenta. E a melodia não para. 

- Te enxerga seu rebaixado, teu time é um lixo! 

Corre para a cozinha tomar seu café. A distância da sacada faz a melodia quase sumir. Com o barulho do café sendo preparado praticamente é esquecida. Mas quando menos percebe, Ildo está cantarolando: 

- "Somos todos teus seguidores..."

E corre para a janela novamente. Antes de gritar perceber o silêncio. E quando resolve gritar, quase junto consigo aquele pesadelo recomeça. 

Corneta voando alta no andar de baixo. A indignação dá espaço para curiosidade, procura no celular e fica ainda mais curioso. A festa da firma tomou conta de sua atenção e se esqueceu da rodada no final de semana. O Inter perdeu pro Brasil de Pelotas. O Grêmio também, pro Juventude. Mas o Inter perdeu e isso não permite festa,o Inter perdeu. 

O que o vizinho está pensando, pensou Ildo. O Inter perdeu, e um jogo de gauchão ainda na primeira fase. Não há razões para festa tão alta no domingo de feriadão. E de manhã. 

De manhã? Olhou o relógio , e se corrigiu. Festa as 15:00 de domingo, colorado fazendo festa depois que perdeu. Não é admissível isso. E decidiu ir a forra. 

Abriu a porta da sacada, invadiu o terraço. Entendeu o silêncio da corneta e uma conversa de crianças como boa oportunidade para dar uma lição na festa colorada dos vizinhos. Não se conteve e mandou:

- O Inter perdeu seus babacas! O Inter perdeu! Acabou a festa, teu time é um lixo! 1x0 pro Brasil de Pelotas. No Gauchão. Perderam! 

O desabafo deu espaço novamente ao silêncio. E a conversa das crianças virou gargalhadas. 

Em poucos segundos a campainha tocou. Não o seu interfone, a campainha. Sabia que seria o vizinho do apartamento da corneta, das crianças e da festa colorada. 

Abriu a porta. O vizinho do apartamento de baixo, e mais dois rapazes, um com cara de que não queria estar ali e outro de camiseta do Inter e bem mais jovem que todos na cena era o mais interessado. 

- O palhaço que veio animar a festa do caçula toca corneta e quando soube que o guri é colorado passou a tocar a melodia. O prédio permite esse tipo de manifestação as 15:00 de domingo. Mas eu já pedi que ele encerre seu expediente. Mesmo que as crianças estivessem gostando dele. 

Não foi uma conversa. Foi um comunicado. Assim que encerrou virou as costas e antes que Ildo fechasse a porta ainda concluiu: 

- Time lixo é o teu , seu filho da mãe. E na próxima vez que tu gritar com meu filho e os amigos dele vou oferecer queixa no condomínio. Todo o teu escândalo está gravado na câmera de segurança. Mas a gente te entende, perder no Jaconi é algo a se lamentar mesmo. O que confirma, teu time é um lixo. 

Se virou e voltou pra festa da piazada. Ildo ainda sem fechar a porta ouviu o hino do Inter tocando no celular do guri com a cara repleta de acnes lhe fitando com malícia e deboche. Ainda próximo a sua porta. 

- Agora deixa ele em paz Nilson. 

-Nilson? 

-Grenal do século. 

Portas se fecharam. O palhaço tocou ainda mais cinco minutos da melodia que acordou Ildo e para encerrar uma versão quase desorganizada do hino do Inter antes que fosse embora. 

Ildo ,então tomando seu café , sentia a ressaca terrível da noite anterior. A festa da firma foi um sucesso, mas agora pesava em sua cabeça. Mas isso era apenas perfumaria na sua tarde de domingo. 

- esse colorado me paga. 


terça-feira, 22 de junho de 2021

Nem tudo deu tão certo

Nem tudo deu tão certo. Pensou em silêncio. Avistou as circunstâncias e horizontes.


Mas ainda estão em movimento. 


o vento frio, não esfria mais. 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Dessa vez é diferente

 O garçom se virou pra trás, topou com uma bela novidade. Franziu o bigode , girou a ponta de seu lado direito com a ponta dos dedos. Franziu a testa e virou-se para voltar de onde veio.


- Fuuuuuuu... , espere um pouco. O que você pensou? Fez uma bela careta, cheia dos detalhes do parágrafo acima.


- Vocês nunca viram um coletivo de golfinhos especialmente feliz?


- Golfinhos?

- Hã, não?


- Especialmente, até o dia de hoje, já havia servido Narguilés para artistas e músicos terráqueos 


- Hey!


- ... e de Júpiter também, continuando, porém essa noite em especial, e esse grupo em especial estão diferentes. Dessa vez é diferente.


- Como você pode afirmar isso?

- Ora, vocês estavam lá dentro. Não prestaram atenção no papo animado de happy hour entre o show de sombras de brindes e debates sobre combustível renovável de maneira improvável?

- Do que você está falando?


- Daquele grupo que esteve bebendo o tempo todo, aos gritos e gargalhadas como final de futebol com vitória enquanto os srs tocavam seus instrumentos simplórios.


- Eu te falei que os de Júpiter são mais apropriados.


- Porém não para esta situação...


Todos olham para o clarão de fumaça que rompe um ponto exato do estacionamento. 


- Ruffus!!!

Disseram os dois músicos , e sem pestanejar. Diria Silveirinha.


- Peraí, eu não te conheço. 

- Muito menos eu.


- Meus jovens, venho de minha cabine lhes informar, que em outro angulo e quadrante deste mesmo multiverso, Theodorus e William precisam de vocês.


Uma lágrima de emoção e de oportunidade caiu de Júpiter, resvalando no longo espaço sideral por prismas coloridos em direção a uma cabine telefônica terráquea. 

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Ainda no estacionamento

 - Sr, o seu chá de limão está pronto. E demais acessórios também.


- Uau, o serviço é bom por aqui. 

- Exatamente!


Um acorde de guitarra se materializou no céu, intrigando todos. Menos o garçom que olhava a  todos que intrigavam-se com o espetáculo que ele há muito que se acostumara. Mas então...



domingo, 2 de maio de 2021

Dinheiro digital

O interfone toca:


- Alô 

- Entrega  

- Descendo  


- O pagamento é no débito

- Você parece cansado 

- São as escadas...

- Parece que as fontes também.

- Mas isso pouquíssimos irão entender.


A gargalhada compartilhada é interrompida pelo mesmo diálogo na porta ao lado, quando um sem esperança diálogo foi proposto:

- Tu não troca uma de cinquenta pra mim...

- Eu vim com a máquina.

-Mas nem por duas de vinte e duas de cinco?

- Eu vim com a máquina, estou sem troco.

- Olha aí na tua pochete (top!!!!!!!!)

Sons de pochete revirada, portões fechados, chaves girando e lá no fundo o diálogo cada vez mais surdo que os passos nas escadas encerrava:


- mas nem cinquenta centavos...